terça-feira, 29 de novembro de 2011

BOTELHO DE OLIVEIRA (1636-1711)

Manuel Botelho de Oliveira cursou Direito na Universidade de Coimbra, em Portugal. De volta ao Brasil, passou a exercer a advocacia e foi eleito vereador da Câmara de Salvador. Em 1694 tornou-se capitão-mor dos distritos de Papagaio, Rio do Peixe e Gameleira, cargo obtido em função de empréstimo de 22 mil cruzados para a criação da Casa da Moeda, na Bahia. Conviveu com Gregório de Matos e versou sobre os temas correntes da poesia de seu tempo. A sua primeira obra impressa foi Mal Amigo, escrita em 1663 e publicada em Coimbra. Sua principal obra é a coletânea de poemas Música do Parnaso, escrita em 1705, publicado em Lisboa, tornando-o o primeiro autor nascido no Brasil a ter um livro impresso. Na obra, destaca-se o poema À Ilha de Maré, com vocabulário típico dos barrocos, e um dos primeiros a louvar a terra e descrever com esmero a variedade de frutos e legumes brasileiros, lembrando sempre a inveja que fariam às metrópoles européias. 




O SOL E ANARDA


O sol ostenta a graça luminosa,
Anarda por luzida se pondera;
o sol é brilhador na quarta esfera,
brilha Anarda na esfera de formosa.

Fomenta o sol a chama calorosa,
Atada ao peito viva chama altera,
o jasmim, cravo e rosa ao sol se esmera,
cria Anarda o jasmim, o cravo e a rosa.

O sol à sombra dá belos desmaios,
com os olhos de Anarda a sombra é clara,
pinta maios o sol, Anarda maios.

Mas (desiguais só nisto) se repara
o sol liberal sempre de seus raios,
Anarda de seus raios sempre avara.


***


ROSA, E ANARDA


Rosa da formosura, Anarda bela
igualmente se ostenta como a rosa;
Anarda mais que as flores é formosa,
mais formosa que as flores brilha aquela.

A rosa com espinhos se desvela,
arma-se Anarda espinhos de impiedosa;
na fronte Anarda tem púrpura airosa,
a rosa é dos jardins purpúrea estrela.

Brota o carmim da rosa doce alento,
respira olor de Anarda o carmim breve,
ambas dos olhos são contentamento:

mas esta diferença Anarda teve:
que a rosa deve ao sol seu luzimento,
o sol seu luzimento à Anarda deve.


***


Vendo a Anarda Depõe o Sentimento


A serpe, que adornando várias cores,
com passos mais oblíquos, que serenos,
entre belos jardins, prados amenos,
é maio errante de torcidas flores;

se quer matar da sede os desfavores,
os cristais bebe com a peçonha menos,
por que não morra com os mortais venenos,
se acaso gosta dos vitais licores.

Assim também meu coração queixoso,
na sede ardente do feliz cuidado
bebe c’os olhos teu cristal formoso;

Pois para não morrer no gosto amado,
depõe logo o tormento venenoso,
se acaso gosta o cristalino agrado.

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