quinta-feira, 5 de abril de 2012

SÉRGIO CONH (1974- )


Sergio Cohn nasceu em São Paulo, em 1974. É editor desde 1994 da Revista Azougue, e em 2001 criou a Azougue Editorial. É autor de Lábio dos Afogados (Nankin, 1999), Horizonte de Eventos (Azougue, 2002), e O Sonhador Insone (Azougue, 2006). Segundo Carlos Machado “O paulistano Sergio Cohn sabe que o poeta, em sua aventura criativa, está sempre se arriscando em país estrangeiro. Por isso se propõe a visitar o território da poesia "pelo puro prazer da paisagem". Sabe também que lá, como estrangeiro, não lhe é permitido menos que o esplendor. Essa parece ser a profissão de fé desse jovem poeta, sugerida no poema Discurso”.



DISCURSO

tecer o fio de Ariadne
sem ao menos a intenção
de um dia retornar

tecer pelo exercício
narcísico
de se conhecer e doar

ir, perscrutar
para além do verde
opaco da próxima curva

sabendo cada passo
apenas eco
do anterior

ir
pelo puro prazer
da paisagem

ao estrangeiro

é permitido
o esplendor
 

***



FLOR BRANCA

No cimento cru da varanda
A flor branca
Que ia ofertar a Iemanjá.
Agora não mais flor
Nem oferenda,
Simples objeto
entregue ao sol.
O talo descuidadamente cortado,
As pétalas amarelecidas.
Penso na inutilidade daquele corpo,
Na fragilidade do que floresce.
 

***



MNEMO

Há um resíduo de futuro
no vento, fotograma ante-
cipado, montagem de fragmentos
induzindo à cena. Como
aquela árvore se curvando com-
placente aos invisíveis pesos,
como o mormaço
predizendo chuva. Repito,
há um canto anterior
a qualquer canto, uma réstia,
um eco primeiro, como um som
que ressoa por dentro de cada
palavra, como todo gesto se
desenha e apaga, então
novamente. Há o revés,
o diáfano, o termo, beleza
posta e perdida, o desen-
cadeamento, assim
como a sede do vapor
por uma forma, assim
como tudo retorna
à imaginação
por trás da cortina
da memória.
 

Nenhum comentário:

Postar um comentário