quarta-feira, 2 de maio de 2012

CLARISSA MACEDO (1988 - )


Clarissa Macedo é baiana. Trabalha como revisora e produtora. Cursa Mestrado em Literatura e Diversidade Cultural (UEFS). Está presente nas coletâneas Godofredo Filho (2010), Sangue Novo (2011) e Verso e ProsaOficina de Criação Literária III Feira do Livro (2011). Faz parte da edição de número 149, de dezembro de 2011, da revista eletrônica Verbo21. Publicou poemas no site Musa Rara em fevereiro deste ano.  Participou, em 2011, da IV Feira do Livro de Feira de Santana e da 10ª Bienal do Livro da Bahia na abertura da Praça de Cordel e Poesia. Tem sua poesia em sites, blogs e cantos por aí.






Aquela que não quis ser...




Nunca a mulher eleita
a mãe, a caseira. Jamais
a primogênita aceita.

Nunca a preferida assumida
ou a bela primeira legitimada.

Sempre a repartida, a preterida.
Dentre todas inteiras, a fragmentada.

Nela só a astúcia cruel,
molemente enraizada.


Só que a vida deu de adoecer
nela se putrefar
deu de sucumbir, se escrever
desabrochar

e desabafando,
a jogou bem no meio do mar.





***


O Inominável



Semente de horas invisíveis
Saudade aflita do que não vivi –
navio de desejos enrugados.

Morada no cume do monte ensolarado
tempestade muda que desaba.
E lá, bem dentro do coração,
desespero de intensa toada,
aquele vazio.

Não é fácil sentir os pelos na pele
contar as horas em que apenas sonho
e ver sentada o infinito cínico doído:
aquilo que não tem nome.




***


Faces



Lúrida é esta vida

que de triste anda esquecida
à agulha violenta do tempo;

sempre o segredo, o erro,
e de dor, angústia e medo
vai deixando-se matar.

Pálida, de sozinha gozar
o azul pleno e escondido,

escurecida é, pela sanha
soturna do esquecimento;

ah, se a lira inviolável
que ama o cosmo
iluminasse, perdida,
meu colo imponderável

o bafo da sombra final
não seria, digamos assim,
tão certo, tão ácido.


2 comentários:

  1. Belissímos poemas ! Parabéns Clarissa e parabéns Silvério pelo blog !

    ResponderExcluir
  2. Só que a vida deu de adoecer
    nela se putrefar
    deu de sucumbir, se escrever
    desabrochar


    Clarissa Macedo é daquelas que mantém viva a nossa esperança na poesia, que mantém viva a tradição da poesia baiana, sem deixar de oferecer alguma coisa de novo. Seus poemas são, quase sempre, paradoxalmente singelos e de uma feminilidade agressiva. Não sei a que comparar. Mas se soubesse, compararia às sereias, que seduzem, mas matam.

    ResponderExcluir