quarta-feira, 16 de maio de 2012

CLÁUDIA BARRAL (1978 - )


Nascida em Salvador e radicada em São Paulo, Cláudia Barral é formada em Interpretação Teatral pela Universidade Federal da Bahia e atua em diversos campos da produção literária, como dramaturga, roteirista, contista e poetisa. Na sua produção em dramaturgia destacam- se O Cego e o Louco (Prêmio Copene 2000, com versão roteirizada para a TV Cultura em 2007), Cordel do Amor sem Fim (Prêmio Funarte 2004, com versão roteirizada para a TV Anísio Teixeira em 2010), O Terceiro Sinal (Texto escrito em comemoração aos 50 anos da Escola de Teatro da Universidade Federal da Bahia, em 2007). Em seu trabalho como dramaturga envolvida com a criação dirigida de grupos de teatro, Cláudia acumula, entre outras, colaborações com o Núcleo do Teatro Castro Alves (Dias de Folia, 2010) e com a Casa Laboratório (Estudo sobre o Urbano / Figurantes, 2008). Entre as diversas montagens, filmagens e leituras encenadas de seus textos teatrais, no Brasil e na Itália, somam-se as participações de artistas como José Lewgoy, Cacá Carvalho, Paulo Gracindo Júnior, Othon Bastos, Mel Lisboa e Francisco Medeiros. É autora do livro de poemas O coração da baleia (P22, 2011)








JANELA ACESA


 A moça se inclina sobre o parapeito,
silêncio, flor branca guardada.

Perdida de mim, a moça ausente me olha.
É a minha alma que ela espreme entre os dedos ferozes.

A moça habita o azul,
entre nuvens, anjos e pássaros, seu rosto sem sol.

Suspensa nos olha, atrás da vidraça, seu nicho de santa,
sua vida que eu não conheço.

De longe eu a vejo, princesa do céu,
enquanto estou preso em mim.


***



POUSO

Para me aninhar nos teus braços percorri mil oceanos,
As águas profundas de mim mesma.
Até dormir a teu lado passei as noites em claro,
Percorri os subterrâneos.
Para ver os teus olhos tive que descobrir os meus,
Meus olhos pousados sobre pedras quentes.
Chegar a ti foi tudo o que fiz. E foi o bastante. 


***


PEQUENA VALSA PARA O FUNERAL DAS HORAS.


Se eu pudesse, minha irmã, ouvir o que ela ouvia
Quando olhava, em silêncio, os relógios, seus ponteiros a girar.
Se eu pudesse escutar o som que eles faziam,
O tempo que existia, quando o tempo costumava a caminhar.
As mulheres costumavam engordar,
Os homens desatavam a beber,
Os velhos tinham o hábito de morrer,
E o tempo não parava de passar.
Se eu pudesse acompanhar seus olhos que seguiam
As horas que morriam quando outras começavam a nascer.
Se eu pudesse escutar que o som do que ela via
Era um tal barulho imenso que podia, em silêncio, ensurdecer.
Quando ainda era cedo.
Quando ela ainda podia ficar.
Quando ela ainda queria me ver.
E o tempo não parava de passar.


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