quarta-feira, 2 de maio de 2012

LEILA MICCOLIS (1947- )



 Leila Miccolis nasceu no Rio de Janeiro. É editora, professora de roteiro de televisão, promotora cultural e artista performática. Publicou, entre outros, os livros: Em perfeito mau estado (Editora Achiamé, Rio de Janeiro, 1987); Do poder ao poder - alternativas na poesia e no jornalismo nos anos 60, (Editora Tchê, Rio Grande do Sul, 1987); O bom filho a casa torra, (Editoras Edicon e  Blocos, São Paulo e Rio, 1992); Achadas e Perdidas e Sangue cenográfico, (Editora Blocos, Rio de Janeiro, 1997). Para o poeta Glauco Mattoso Leila Niccolis é “uma das mais eloqüentes e expressivas vozes femininas entre os 70 e os 80, atualmente pilota seu próprio e monumental sítio BLOCOS ON LINE, no qual assino a coluna "Glaucomatopéia". Autora polivalente (e bota valente e bota poli nisso) e prolífica, envia-me uma amostra de sua produção no campo sonetístico, que inclui até o primeiro capítulo duma novela poética publicada entre 73 e 75 no recifense JORNAL DE POESIA”.







CAMINHO DAS ÁGUAS


Cada rio é a vitória de seus elementos:
superando o desnível do solo, ele o trata,
pois na terra que leva, outra terra aclimata,
evitando desgastes e abalos violentos.

Vilarejos viceja. Transporta alimentos.
É fronteira e até porto; também serve à mata,
e às pessoas sensíveis, que inspira e arrebata,
pelos seus simbolismos e os seus movimentos.

Sendo um Bem, todo rio é um milagre expressivo,
que equilibra o planeta e, ao salvá-lo, o melhora
— um trabalho de amor e de muita insistência.

É vital preservá-los, pois são seres vivos,
defensores do clima, da fauna, da flora,
do mistério de Gaia e da própria existência.


***

ATIRADOR DE FACAS


Arrancar as vendas
e acompanhar,
de olhos abertos,
a trajetória do punhal,
cravado em nosso corpo, em nosso peito,
a cada amor desfeito. 




***


ROTEIRO


— "Mas que surpresa boa eu encontrá-la.
Lembra de mim?" — "Me lembro: o escritor...
Já li seu livro" — "E então?" — "Tem muito humor
e o fim, confesso, me deixou sem fala..."

— "Bom que gostou! Eu... quero convidá-la
Para um debate". — "E qual o tema?" —"Amor...
Será de noite". — "Hoje???" — "Por favor"...
— "Irei" — "Perfeito, às oito vou pegá-la..."

— "É muito incômodo..." — "Nem diga isso!
Mas se tiver um outro compromisso..."
— "Não... está bem, anote a residência..."

— "Até mais ver..."  — "Até..." e fui embora,
tendo-a seguido antes, uma hora,
para forjar a falsa coincidência.




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