quarta-feira, 11 de julho de 2012

SOSÍGENES COSTA (1901-1968)


Sosígenes Marinho da Costa estreou na imprensa por volta de 1928, em Ilhéus BA, onde foi colaborador do Diário da Tarde. No mesmo ano tornou-se membro da Academia dos Rebeldes, com Pinheiro Viegas, Jorge Amado, Edison Carneiro e Dias da Costa. Na época, trabalhava como professor de instrução primária. No início da década de 1950 foi secretário da Associação Comercial e telegrafista do Departamento de Correios e Telégrafos, em Ilhéus. Em 1959 ocorreu a publicação de seu livro Obra Poética, pelo qual recebeu o Prêmio Jabuti de Poesia, em 1960. Entre 1978 e 1979 foram publicadas a segunda edição, revista e aumentada, de Obra Poética e a póstuma Iararana, por iniciativa de José Paulo Paes. A poesia de Sosígenes Costa vincula-se à segunda geração do Modernismo. Segundo o crítico José Paulo Paes, "a ter como certas as datas de composição das peças enfeixadas na primeira parte da Obra Poética, quando ainda andava acesa a campanha dos modernistas contra o soneto em prol da institucionalização do verso livre, entretinha-se o poeta a escrever seus Sonetos Pavônicos, todos rigorosamente rimados e metrificados, nos quais são perceptíveis traços parnasianos e, sobretudo, simbolistas, ainda que tais sonetos nada tenham de passadistas, caracterizando-se antes por uma modernidade que se patenteia, como a de Quintana, na exploração criativa das possibilidades expressionais dessa forma fixa, então esclerosada pela prática mecânica e abusiva.".






O PAVÃO VERMELHO


Ora, a alegria, este pavão vermelho,
está morando em meu quintal agora.
Vem pousar como um sol em meu joelho
quando é estridente em meu quintal a aurora.

Clarim de lacre, este pavão vermelho
sobrepuja os pavões que estão lá fora.
É uma festa de púrpura. E o assemelho
a uma chama do lábaro da aurora.

É o próprio doge a se mirar no espelho.
E a cor vermelha chega a ser sonora
neste pavão pomposo e de chavelho.

Pavões lilases possuí outrora.
Depois que amei este pavão vermelho,
os meus outros pavões foram-se embora.

***



TORNOU-ME O POR DO SOL
UM NOBRE ENTRE OS RAPAZES


Queima sândalo e incenso o poente amarelo
perfumando a vereda, encantando o caminho.
Anda a tristeza ao longe a tocar violoncelo.
A saudade no ocaso é uma rosa de espinho.

Tudo é doce e esplendente e mais triste e mais belo
e tem ares de sonho e cercou-se de arminho.
Encanto! E eis que já sou o dono de um castelo
de coral com porões de pedra e cor de vinho.

Entre os tanques dos reis, o meu tanque é profundo.
Entre os ases da flora, os meus lírios lilases
meus pavões cor de rosa os únicos do mundo.

E assim sou castelão e a vida fez-se oásis
pelo simples poder, ó por do sol fecundo,
pelo simples poder das sugestões que trazes.

***



PAVÃO AZUL

No jardim do castelo desse bruxo
d’asas d’ouro e olhos verdes de dragão,
tu és à beira de um lilás repuxo
um grande lírio de ouro e de açafrão.

Transformado em pavão por esse bruxo,
vivo te amando em tardes de verão,
dentre as rosas e os pássaros de luxo
do jardim desse bruxo castelão.

Tenho medo que um dia o jardineiro...
Mas nunca estou bem certo, do canteiro
há de colher-te, oh minha flor taful!

Porque ele sabe que em manhã serena
não suportando a ausência da açucena,
há de morrer este pavão azul.







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