terça-feira, 11 de setembro de 2012

MACIEL MONTEIRO (1804-1968)

Antonio Peregrino Maciel Monteiro, Barão de Itamaracá, nasceu em Recife, Pernambuco, e morreu em Lisboa. Poeta, orador, jornalista, formado em Letras, Ciências e Medicina, estudou em Paris. Ocupou vários cargos públicos. Além de sua tese de doutorado em Medicina, não publicou nada em vida. Um dos poetas indicados por Silvio Romero, ao lado de Álvares Machado e João de Barros Falcão, como de transição para o Romantismo. Entre as suas obras principais, encontram-se: Poesis (1905); Poesias (1962). 






FORMOSA



Formosa, qual pincel em tela fina
debuxar jamais pôde ou nunca ousara;
formosa, qual jamais desabrochara
na primavera a rosa purpurina;

Formosa, qual se a própria mão divina
lhe alinhara o contorno e a forma rara;
formosa, qual jamais no céu brilhara
astro gentil, estrela peregrina;

Formosa, qual se a natureza e a arte,
dando as mãos em seus dons, em seus louvores,
jamais soube imitar no todo ou em parte;

Mulher celeste, oh! anjo de primores!
quem pode ver-te, sem querer amar-te?
quem pode amar-te, sem morrer de amores?! 

***

SONETO

Era já posto o sol. A natureza
em ondas de perfume se banhava;
aqui, pendia a rosa, além brilhava
alguma flor de virginal pureza.

 Nuvem sutil, de pálida tristeza,
 pelo cândido rosto lhe vagava.
 nas negras tranças do cabelo estava
 murcha e mais triste uma saudade presa.

 Oh! pintor que a pintaste! Era mais bela
 que a lua deslumbrante de fulgores,
 surgindo dentre as sombras da procela!

 Ao vê-la, aos meus olhos matadores,
voou meu coração aos lábios dela,
minh´alma ardente se banhou de amores.

***


UM SONHO
                     ao embarque e partida de uma Senhora.

Ela foi-se! E com ela foi minh’alma
n’asa veloz da brisa sussurrante,
que ufana do tesouro que levava,
ia... corria... e como vai distante!

Voava a brisa e no atrevido rapto
frisava do Oceano a face lisa:
eu que a brisa acalmar tentava insano,
com meus suspiros alentava a brisa!

No horizonte esconder-se anuviado
eu a vi; e dois pontos luminosos
apenas onde ela ia me mostravam:
eram eles seus olhos lacrimosos!

Pouco e pouco empanou-se a luz confusa,
que me sorria lá dos olhos seus;
e dalém ondulando uma aura amiga
aos meus ouvidos repetiu adeus!

Nada mais via eu, nem mesmo um raio
fulgir a furto a esperança bela;
mas meus olhos ilusos descobriram
numa amável visão a imagem dela.

Esvaiu-se a visão, qual nuvem áurea
ao bafejar da vespertina aragem;
se aos olhos eu perdia a imagem sua,
no meu peito eu achava a sua imagem.

Ela foi-se! ... E com ela foi minh’alma
na asa veloz da brisa sussurrante,
que ufana do tesouro que levava,
ia... corria... e como vai distante!




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