quarta-feira, 17 de outubro de 2012

WALTER RAMOS (1976 - )

Walter Ramos Arruda nasceu em Recife, é graduado em Letras. É editor de uma jovem e promissora editora pernambucana, a Editora Paés; mas levará algum tempo para publicar seus textos. Vive escrevendo... como compete a todo poeta.







DE_CADENCIAR


Fita vivamente a luz que imita o alabastro.
Viste pontos de fuga na fugacidade noturna;
entrelugares, risos em coro, divas de bronze,
pernoitadas nos lupanares - mobílias ocultas.
Urge a dor galopante a devorar as deidades.

Um quarto de tuas noites reservas à loucura;
na loja medíocre, confrades da mendacidade
sorvem torpores, vertem blasfêmia e espuma.
Carcaças vis morfadas em estátuas de Crack;
vagueiam cães no entorno das mesas chulas

mendigam as migalhas, habitam em angústia.
Saíste à tarde, não avisaste quanto a demora:
apearias a aurora, no bairro da Vista Obscura.
Fabularias sobre arte, morte; o mito de Marte.
& amanhecerias insone,
numa roda de putas.


***



MATUTINO

Segreda a manhã na claridade do dia;
enfeita a virtude de estar entre viventes
atenta em respeito ao pão diário e ao leite.
Impinge em alguém o sereno, o sublime
sem esforço um sorriso acontece.
Serve dos pulmões a forma inteira
exalta uma vez por dia a esfera celeste
jamais se lança em trevas completamente
(é a força agreste – o princípio da queda).
Em muitos dias não cabe a vida toda.
Um dia vem plena toda a vida inteira.
É mistério perene. Cada um é retalho
do tecido vasto. Um fio em cada astro.
Segreda: também tenho a minha estrela.


***


A POSE DAS CINZAS


No jubileu dos tempos, notívagos gritos transbordam a Cidade das Pedras Cantantes. Vozes rachadas, loquazes, emolduram semblantes inermes. Do nada a dizer, o medo, como fosse prisão. Na verbo-sangria o parapeito que oculta o cativeiro; dissimula do espírito a liberdade entre homens que debatem-se como vermes nos salões de açúcar decadentes, e espaços comezinhos massapés. Frações mínimas de idéias fumam rarefeitas à estratosfera no meio da algaravia. Enquanto platéias imberbes aplaudem; sem saber ao menos o quê.




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