sábado, 12 de janeiro de 2013

LÊDO IVO (1924-2012)


Poeta, romancista e ensaísta, Lêdo Ivo nasceu em Maceió, Alagoas, em 1924. Fez a sua primeira formação literária no Recife e, em 1943, transferiu-se para o Rio, onde continuou a atividade jornalística iniciado na província. Formado pela Faculdade Nacional de Direito da Universidade do Brasil, nunca advogou. Lêdo lvo estreou em 1944, com As Imaginações, livro de poemas a que se seguiram Ode e Elegia, Acontecimento do Soneto, Ode ao Crepúsculo, Cântico, Linguagem, Um Brasileiro em Paris, Magias, Estação Central, Finisterra, O Soldado Raso, A Noite Misteriosa, Calabar, Mar Oceano, Crepúsculo Civil e Curral de Peixe. Como poeta, foi distinguido com o Prêmio Olavo Bilac, da Academia Brasileira de Letras, o Prêmio Cláudio de Souza, do Pen Club do Brasil, o Prêmio Jabuti, o Prêmio de Poesia da Fundação do Distrito Federal e o Prêmio Casimiro de Abreu. Lêdo Ivo pratica também a ficção e o ensaio. Ao seu romance de estréia, As Alianças (l947), foi conferido ao Prêmio Graça Aranha, e Ninho de Cobras conquistou o Prêmio Nacional Walmap de 1973. Os romances O Caminho Sem Aventura, O Sobrinho do General e A Morte do Brasil e o livro de contos Use a Passagem Subterrânea completam a sua produção como ficcionista. Entre seus ensaios, figuram O Universo Poético de Raul Pompéia, Poesia Observada, Teoria e Celebração, Ladrão de Flor, A Cidade e os Dias, A Ética da Aventura e A República da Desilusão. Como memorialista, publicou Confissões de um Poeta, que mereceu o Prêmio memória da Fundação Cultural do Distrito Federal e O Aluno Relapso. Seu romance Ninho de Cobras, foi lançado em inglês pela editora Directions, de Nova Iorque, sob o título Snakes' Nest, e pela Editora Peter Owen, de Londres e em dinamarquês (Slangboet) pela Editora Vindrose, de Copenhague. Em 1990, foi eleito o Intelectual do Ano pela União Brasileira de Escritores (Troféu Juca Pato). Ledo Ivo pertence à Academia Brasileira de Letras, para a qual foi eleito por unanimidade, e é Comendador da ordem do Rio Branco e oficial da ordem do Mérito Militar. Morreu em dezembro de 2012...






Acontecimento do Soneto


À doce sombra dos cancioneiros
em plena juventude encontro abrigo.
Estou farto do tempo, e não consigo
cantar solenemente os derradeiros

versos de minha vida, que os primeiros
foram cantados já, mas sem o antigo
acento de pureza ou de perigo
de eternos cantos, nunca passageiros.

Sôbolos rios que cantando vão
a lírica imortal do degredado
que, estando em Babilônia, quer Sião,

irei, levando uma mulher comigo,
e serei, mergulhado no passado,
cada vez mais moderno e mais antigo.



***



Soneto Presunçoso


Que forma luminosa me acompanha
quando, entre o lusco e o fusco, bebo a voz
do meu tempo perdido, e um rio banha
tudo o que caminhei da fonte à foz?

Dos homens desde o berço enfrento a sanha
que os difere da abelha e do albatroz.
Meu irmão, meu algoz! No perde-e-ganha
quem ganhou, quem perdeu, não fomos nós.

O mundo nada pesa. Atlas, sinto
a leveza dos astros nos meus ombros.
Minha alma desatenta é mais pesada.

Quer ganhe ou perca, sou verdade e minto.
Se pergunto, a resposta é dos assombros.
No sol a pino finjo a madrugada.



***



O Lago Habitado
(HAI-KAI)


Na água trêmula
freme a pálida
anêmona.

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