quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

ABGAR RENAULT (1901-1995)

Abgar de Castro Araújo Renault, professor, educador, político, poeta, ensaísta e tradutor, nasceu na cidade de Barbacena,  Minas Gerais. Filho de Leon Renault e de D. Maria José de Castro Araújo Renault, iniciou seus estudos em Belo Horizonte (MG). Formado professor, passa a exercer o magistério naquela cidade, trabalhando no Ginásio Mineiro e, posteriormente, na Universidade Federal de Minas Gerais. Na cidade do Rio de Janeiro (RJ), para onde se transferiu, deu aulas no Colégio Pedro II e na Universidade do Distrito Federal, hoje Universidade Federal do Rio de Janeiro. Eleito deputado estadual por Minas Gerais, exerceu diversos cargos de relevância, cabendo citar o de Diretor do Colégio Universitário da Universidade do Brasil; Secretário da Educação do Estado de Minas Gerais por duas vezes; Ministro da Educação e Cultura,; Ministro do Tribunal de Contas da União e o Centro Regional de Pesquisas Educacionais João Pinheiro em B. Horizonte. Exerceu diversos cargos no exterior, tais como o de membro da Comissão Consultiva Internacional sobre Educação de Adultos, da UNESCO; Membro da Comissão Internacional do Curriculum Secundário da UNESCO e representou o Brasil em diversas conferências internacionais sobre educação Teerã, Belgrado, Genebra, Londres e Santiago do Chile. Nomeado Professor Emérito da Universidade Federal de Minas Gerais, foi eleito, em 1968, para ocupar a cadeira nº 12 da Academia Brasileira de Letras, tendo tomado posse em 23 de maio de 1969. Tradutor, especializou-se em poetas alemães, espanhóis, ingleses, norte-americanos e franceses. O autor foi casado com D. Ignez Caldeira Brant Renault, com quem teve três filhos: Caio Márcio, Carlos Alberto e Luiz Roberto. Faleceu no dia 31 de dezembro de 1995, aos 94 anos. Entre as suas principais obras estão: Sonetos antigos (1968); A lápide sob a lua (1968); Sofotulafai (1971); A outra face da lua (1983)...





Balada da irremediável tristeza


Eu hoje estou inabitável...
Não sei por quê,
levantei com o pé esquerdo:
o meu primeiro cigarro amargou
como uma colherada de fel;
a tristeza de vários corações bem tristes
veio, sem quê, nem por quê,
encher meu coração vazio...vazio...
Eu hoje estou inabitável...
 

A vida está doendo...doendo...
A vida está toda atrapalhada...
Estou sozinho numa estrada
fazendo a pé um raid impossível.
 

Ah! se eu pudesse me embebedar
e cambalear...cambalear...
cair, e acordar desta tristeza
que ninguém, ninguém sabe...
Todo mundo vai rir destes meus versos,
mas jurarei por Deus, se for preciso:
eu hoje estou inabitável...


***


Noite
 

Há duas pombas brancas no telhado.
Junto delas pousa o silêncio do dia já parado,
e entre asas caladas o primeiro gesto da noite vai crescendo.
É tarde nos telhados e nas árvores,
é tarde (triste e mais tarde) nessa rua
que se reabriu no fundo de um olhar,
onde se movem ressurrectos mármores
e começam a discorrer ventos e velas
por sobre a limpidez das mesmas águas velhas,
e pássaros azuis bicam frutos de astro soltos no ar.
 

Sobem (de onde?) vultos escuros de coisas e de entes,
alongam a última distância, somem a luz que se destece
e a linha dos caminhos, apagam o verde prado.
Não há duas pombas brancas no telhado:
sobre elas, seu vôo e seu arrulho ausentes
a lápide sem cor das horas desce.


***


SONETOS JÁ ANTIGOS (III)

Em vam apuro a minha fortitude,
Senhora, por vencer o meu Amor.
Debalde o vosso olhar, que assi me illude,
Ao meu denega o bem de seu fulgor.

Que quanto mais de vós se desilude
Meu tino vam, mais eu chego a suppor
Que tal fereza hum dia se desmude,
E que peneis tambem da mesma dor.

Mas he sem cura o mal que anda a pungir-me:
Que, si agora padece este meu ser,
Porque eu vos vejo contra mi tam firme,

O dano de querer-vos sem vos ter,
Em vos sentindo minha, ha de ferir-me
O mal de ter-vos sem vos merecer.


Nenhum comentário:

Postar um comentário