segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

LORENA MIRANDA (1988 - )

Lorena Miranda nasceu em Belém, capital do Pará, em 1988. Mora em São Paulo desde 2006, tendo-se graduado em Letras pela USP. Em 2014, pela mesma USP, obteve o título de Mestre em Literatura e Cultura Russa. Atualmente está finalizando seu primeiro livro de poemas, O Corpo Nulo, ainda sem data de publicação.











Permanência*


Contemplo com emoção a vida amena,
a soma desses dias que vivemos
sem perceber que passam, que passamos.
E entanto do que finda há algo que emana

e se acumula a um canto, como pó,
ou antes como a pedra preciosa
gestada nas entranhas do rochedo
à custa da erosão de alguns milênios.

De tudo o que vivemos, dessas horas
de doce dormitar diante do espelho
sem ver que envelhecemos, sobrevive

claro no sobretempo o amor que jorra
desde a ancestral nascente que semeias
em meu ventre de terra, redivivo.




***

Se a mim me der a vida te ver velho...


Se a mim me der a vida te ver velho,
tua loura cabeleira embranquecida
e ao fundo de olhos calmos, de partida,
a certeza de quem se sabe eterno,

se a ventura eu tiver de estar contigo
ao fim da estrada longa e pedregosa,
sabendo que tuas mãos breves recitam
em cada linha a vida que era nossa,

não temerei que o chão se abra e eu não sinta
mais a trepidação das horas duras;
que o tempo se desfaça em bolhas, plumas,

contanto que este alento se consinta:
sorver tua presença transformada
em pura essência, quando o mais for nada.



***





A Virgem e o Primeiro Milagre



Tu és para Ele como a vinha
vertida em verve alucinante,
a transbordar, vermelha e líquida,
de antes inconcebíveis ânforas.

Tua pele tímida e translúcida,
desde que Ele a habitou, reluz
de um rubro intenso, como as águas
transubstanciadas em Caná.

Tu és o milagre original,
entre as transformações primeva
que O prepararam para andar

sobre os batidos chãos de terra
do mundo insano para o qual
Lhe deste o estofo e o alento humanos.







*Poemas gentilmente cedidos pela autora....


Um comentário:

  1. Lorena Miranda, quanta falta de atenção a minha! só agora leio os teus poemas - sonetos de dar inveja aos maiores - e vejo que nem tudo está perdido. Quem vilipendiou a poesia tem agora um adversário! Não que vás confrontá-los; é que o que escreves já basta para fazer muitos deles se calarem! Vou agora mesmo adquirir os teus livros! Salve o soneto! Luciano Maia

    ResponderExcluir