sábado, 21 de fevereiro de 2015

IRACEMA MACEDO (1970 - )

Iracema Macedo nasceu em Natal, capital do Rio Grande do Norte. Formou-se m filosofia em 1991 na UFRN e concluiu o mestrado na mesma área na UFPB, em 1995. Na Unicamp, defendeu o doutorado, também em filosofia, em 2003. Durante alguns anos, viveu em Ouro Preto, Minas Gerais, e trabalhou na UFMG. Atualmente, é professora no Instituto Federal Fluminense, IFF-Cabo Frio, no estado do Rio de Janeiro. Entre seus livros, destacam-se: Lance de dados (2000) e Invenção de Eurídice (2006).





PRISÕES


Antes eu era o incêndio
Agora faço seguro contra fogo
Contra roubos

Eu mesma era furacão
Eu mesma roubava
Agora apaziguo tudo e tranco

Antes eu era as perdas
Agora sou vista pelo bairro, precavida,
Comprando cadeados sob medida

***


SANTA CLARA

Amanheci de um modo novo hoje
as luzes de sempre
não me prendem mais com suas âncoras
queimei as lanças
e fui deixando para trás
a casa, o pátio, a aldeia
docemente ensolarada

Rasguei as certezas
enterrei os vestidos
e agora tenho por riqueza o vento

que sustenta os pássaros


***


O POEMA DE LAURA



Essa moça que amei
na tarde fria
não a amo mais

Aos poucos
estou esquecendo seu rosto,
suas formas, seu modo obsceno
de gritar meu nome em meio ao gozo

Estou esquecendo suas mãos, seus gestos,
Seu modo de fugir, sua alegria.
A cada dia que passa
eu a esqueço mais
como se ainda fosse amor o que sentisse

Estou esquecendo as águas
onde a vi banhar-se
esqueço as vestes claras, a trança úmida,
e os pequenos defeitos de seu corpo

Se me perguntarem se era feia ou bonita,
não sei, não lembro
tampouco sei dizer se ela era triste

Mas às vezes vinha pela tarde
feito um anjo sem abrigo
e meu amor mordia suas asas

Assim, ferida, ela ficava
presa sob meus cuidados
imune à ira dos deuses e do tempo

Mas me escapou um dia
Ah, essa moça que amei na tarde fria...

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