segunda-feira, 12 de outubro de 2015

CLÁUDIO NEVES (1968 - )

Nascido na cidade Rio de Janeiro, mas morando em Fortaleza, Ceará, há quase duas décadas, Cláudio Neves é poeta, ficcionista, ensaísta, crítico literário e professor: bacharel em Comunicação Social e licenciado em Língua Portuguesa. Publicou pela primeira vez no Jornal de Letras (1988).  Seu livro de estreia, De sombras e vilas (7Letras), no entanto, deu-se apenas 10 anos depois, em 2008.  Em 2009, publicou Os acasos persistentes, também pela editora 7Letras, e, em 2011, Isto a que falta um nome, pela É Realizações. Para o poeta e crítico Ivan Junqueira, na contracapa de seu Isto a que falta um nome, a poesia de Cláudio Neves é “como toda grande e autêntica poesia, a de Cláudio Neves é uma permanente surpresa, no que toca à linguagem, ao ritmo, à música sutil das rimas, ao inesperado das imagens e metáforas, aos temas que se renovam a cada poema. Há neste poeta um harmonioso casamento entre a emoção que pensa e o pensamento que se emociona, o que realça e ilumina a expressão poética”. 






VILA


Seu Pedro morreu roncando.
Dona Hilda, de derrame.
Juquinha, daqui uns anos.

Eunápio foi miocárdio.
Hélio e Mário, um mesmo câncer
metódico, magnânimo.

Seu Paulo reforma o muro
que não verá reformado.
Num prédio, noutro subúrbio,
Judite abrirá o gás,
tomará dez comprimidos.

Ao ocaso, Dona Lourdes,
de ignorado destino,
fecha a janela como se fechasse um livro



***




INTRODUÇÃO À SOMBRA
4. A MORTE

A morte ensina à sombra
como habitar as coisas,
seduzi-las,
e a sombra, à morte
como, tocando-as,
consumi-las.

Que a morte, como sangue,
na sombra circula,
e a sombra  braça a morte,
e a anula.


***



Entreato


... é que amiúde um objeto me constrange
com sua mera e casual presença,
sem que me doa, fira ou que me lembre,
sem que mais seja que ser ele mesmo.

E o vigio em alheado assombro
daquele tudo que nele universo,
ambos fincados no mesmo mistério
de sermos seixos nesse leito espaço-tempo.

Uma falsa maçã sobre uma mesa,
um espelho e a sala em seu fundo ou pele,
um cão, um morto, uma cadeira velha...

E às vezes penso se essas horas sem essência,
que nada valem, nada são, nada libertam,
me salvam do naufrágio da existência.


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