terça-feira, 5 de janeiro de 2016

MARIA DO CARMO BARRETO CAMPELLO

Maria do Carmo Barreto Campello de Melo figura entre as mais importantes poetisas pernambucanas contemporâneas. Passou a infância no engenho da Torre, cujo terreno deu origem ao atual bairro da Torre, no Recife. Bacharel em Letras Clássicas e Licenciada em Didática de Letras Clássicas pela Faculdade de Filosofia do Recife, e pós-graduada com os Cursos de Especialização e de Aperfeiçoamento em Literatura e Língua Portuguesa, pela UFPE. Iniciou sua carreira poética publicando poemas no Diário da Manhã e, posteriormente, com o apoio de Esmaragdo Marroquim, no Jomal do Commercio do Recife. Publicou, a partir de 1968, vários livros de poesia: Música do SilêncioTempo Reinventado, Verdevida, Ser em Trânsito, Varadouro. Recebeu o Prêmio de Poesia Othon Bezerra de Mello (Academia Brasileira de Letras — 1970); Menção honrosa do Prêmio Manuel Bandeira (Govemo do Estado, 1978). Ocupa a Cadeira n° 22 da Academia Pernambucana de Letras.






Lição de Amor


Não te direi de amor
assim como tu queres
pois não se faz o amor, amor existe
e permeia e transcende coração e mente
e dá se dando e dando inteiramente
que despojado é o amor, sem adereços
e a pele é a melhor das vestimentas.

Não te direi
assim como o entendes
mas se eu disser de mim, direi do amor
que há quem não se dando já deu tudo
e visitou a face do teu ser impuro
e adormeceu à sombra dos teus sonhos.

Não
assim como desejas
só que me entrego à noite e ao desespero
e ferida de amor digo teu nome
e ele me cobre como uma vestidura.



***


OS TRANSEUNTES


Os homens olham a cidade
com olhos de posse.
Os homens
acrescentam
modificam          a cidade
concluem
como se fora coisa sua.

Os rios (sábios) passeiam
suas águas e tentam reter
a face que passa e
           (só por algum tempo)
povoará a paisagem.

Os transeuntes
não sentem sua própria transitoriedade,
A carne perecível e frágil passeia
        entre os edifícios tranquilos
e sólidos que se erguem e bebem o azul
no alto.
A terra guarda os passos deléveis

dos caminhantes
incônscios de sua brevidade
        ante a permanência do chão
que pisam.





***




OS CONVIDADOS


Quem faz a festa são os Convidados.
A mesa posta as frutas as flores que
acorreram dos jardins não compõem o essencial

de que se tece a trama invisível do
Encontro.

Os Convidados é que fazem a festa.
Nas garrafas de cristal, o vinho à espera.
Até a música

— que ao teu gesto irromperia —
despedaçando o silêncio
apenas
povoausenciaria a anti-sala
que o amor não compôs.

Inúltimente acenderás as luzes:
— Quem faz a festa
        são os Convidados.

Só o teu olhar ansioso que
aguarda a chegada
dos Amigos
é o pré/a/núncio da
Festa que virá
        dentro de cada Convidado.


YEDA SCHMALTZ (1941-2003)


Nasceu em Tigipió, Pernambuco, mas, ecém-nascida, foi levada para Goiás, passando a residir em Ipameri, terra do seu pai. É neta do poeta Demóstenes Cristino um dos iniciadores do modernismo em Goiás. Bacharel em Letras Vernáculas e em Direito. Professora da Universidade Federal de Goiás, Instituto de Artes. Em toda a sua vida literária ganhou muitos prêmios, como o da Associação paulista de críticos de Arte, em 1985, pelo livro Baco e Anas Brasileiras. Entre os muitos livros que publicou, encontram-se: Caminhos de mim (1964); Tempo de semear (1969); A alquimia dos nós (1974); Baco e Anas brasileiras (1985); A forma do coração (1990); Vrum, 1999; Chuva de ouro, 2000 e Urucum e alfenins – Poemas de Goyaz, 2002.






AMOR


Amor, se houve, eu tive.
De lembrar o amor
em poesia,
minha alma
sobrevive.


***


OITANTE


Alguém fabricou para mim
Uma estrela particular;
Este calor sem-fim.

Receita para se fabricar
uma estrela: é só queimar
átomos de hidro/gênio
por meio da fusão do olhar,
isto é, nuclear.

Fórmula: Bill Gates
que é igual a Olavo Bilac,
ovindo as janelas,
(E acreditar que vai brilhar, ter fé.)

Mas não se esqueça:
amai para entendê-la.
Quantos celulares fantasmas
há por aqui! Cibernéticos na linha.
Ai, que saudade que eu tenho
do tempo de Ivanhoé!



***


MINHA ALMA É TRISTE

Minha alma é triste
como o cerrado goiano.

Minha alma existe
sem ter achado o que amo.

Minha alma insiste
ao menos na beleza:

poemas feitos de hibiscos
— brincos rubros de princesa.


TELMO PADILHA (1930-1997)




Telmo Padilha nasceu em Itabuna, sul da Bahia. Foi jornalista e Membro da Academia de Letras de Ilhéus, por indicação de Adonias Filho. Destacou-se como poeta no cenário nacional e foi agraciado com muitos prêmios como Melhores Livros, da Câmara municipal de Itabuna (1956); 1º Concurso de Poesia - A Tarde; Prêmio Nacional de Poesia do Instituto Nacional do Livro (1975); Prêmio do Concurso Internacional de Poesia San Rocco, Itália (1976); 1º Prêmio do Concurso de Poesia Firmino Rocha, da Prefeitura Municipal de Itabuna (1981); e Prêmio Sosígenes Costa da Prefeitura Municipal de Ilhéus (1981). Poeta de reflexões existenciais, que constantemente indaga-se, questiona-se, numa linguagem repleta de sutilezas líricas. Inquieto, reafirma uma poética cuja temática indaga de forma intimista o viver, o morrer, a infância, a solidão e, ainda, sua relação com a realidade da sua terra, da cultura do cacau e do tempo que estabelece esta história que se escoa pelas frestas cotidianas. Sua poesia reside numa lírica lucidez, num abismo interior, entre a febre e insônia, expressa num processo criativo maduro e num estilo impecável.  Publicou os seguintes livros: Girassol do Espanto (1956); Ementário (1974); Onde tombam os pássaros (1974); Pássaro da Noite (1977); Canto Rouco (1977); O Rio (1977); Voo Absoluto (1977); Poesia Encontrada (1978); Travessia (1979); Punhal no Escuro (1980) e Noite contra Noite (1980), todos no melhor gênero da poesia.








Setembro


Mas se é setembro
e flores não acordam
o olhar antigo
entre as angústias presentes
e o desabrigo
das estações,
e não há caminhos
senão repartir
os passos de amanhã
sobre as mesmas sombras,
como sabê-lo se a mim chegas
por becos onde não há
mais que essas flores de agonia
nascidas da certeza
de que morrem os dias
à margem dos dias?


***



ITABUNA


Se não há montanhas,
como escalá-las?
Se não há florestas,
Com embrenhar-me
em sombras
que não estas?
Se não há o mar,
como falar de águas
e horizontes?

Sou o cantor
desta planície
e me abismo
em mim,
e desço aos outros
de mim,
e sofro os outros
de mim.



***




Os dias

Caminho
em tudo carne,
carne prisão cela
e o navio que não parte.

Os deveres, sim os deveres!
Salas, papéis, os poemas
dominicais. Chora o pássaro.

Os arcabouços, viseiras sempre
por tirar.

Passageiro de outro expresso,
o que não parte.

Voltar não é retornar
ao mesmo lugar.