sexta-feira, 30 de setembro de 2016

TASSO DA SILVEIRA (1895-1968)


Tasso da Silveira nasceu em Curitiba, capital do Paraná. Formou-se bacharel em Direito pela Faculdade de Ciências Jurídicas e Sociais, no Rio de Janeiro, em 1818, mesmo ano em que publicou seu primeiro livro de poesia, Fio d'Água. No ano seguinte, fundou e tornou-se diretor das revistas Os Novos, Árvore Nova, Terra do Sol, com Álvaro Pinto, América Latina, com Andrade Muricy e Cadernos da Hora Presente, com Rui de Arruda. Colaborou nos jornais O Momento, Rio-Jornal, A Manhã, e na Revista Sul-Americana. Foi secretário dos jornais Diário da Tarde e O Estado e redator do Diário da Manhã. Tasso da Silveira fez parte da revista Festa, na fase inicial do Modernismo, ao lado de Cecília Meireles, Murilo Mendes, Andrade Muricy. Esse grupo divergia do nativismo exagerado de Mário de Andrade e Oswald de Andrade e alimentava a chama neo-simbolista. Entre suas principais obras estão: Fio d’água (1918), A alma heroica dos homens (1924), Alegorias do homem novo (1926), As imagens acesas (1928), O canto absoluto (1940), Cantos do campo de batalha (1945), Contemplação do eterno (1952), Puro canto (antologia, 1956), Regresso à origem (1960), Poemas de antes (1966).




Transfusão


Olho-te e olho-me... E, após, sobre nós ambos cismo...
Tua alma, como pôde a minha alma prendê-la?
És candura e inocência, e eu vou errando pela
noite negra do mal, da imperfeição, do egoísmo...

És pura e eu sou impuro. Entanto (o íntimo diz-mo)
nossa mútua afeição nada pode contê-la...
– Para o meu doido olhar és a atração da estrela.
– Ao teu ingênuo olhar sou a atração do abismo...

E havemos de fundir nossas almas, Querida.
E iremos, até soar da vida o último dobre,
como em dois corpos, vês? Uma alma bipartida...

Mas traremos, também, ao fim dos nossos dias,
– tu, um pouco do lodo imundo que me cobre,
– eu, um pouco da luz excelsa que irradias...


***



PERFEIÇão


Doida escalada!... O olhar nevoento e baço
vou subindo a montanha... E, dia a dia,
mais incerto e mais trêmulo é meu passo,
mais a dúvida enorme me angustia...

Cada degrau vencido é uma agonia.
Sonho... mas para a altura ainda ergo o braço.
Sofro! – agudo punhal, lâmina fria,
com que eu mesmo, sorrindo, me trespasso...

Ah! Terei de rolar esse declive
que vim galgando, quase morto, exausto,
vendo perdido o meu esforço em vão?

Ou chegarei, à força que em mim vive,
lá no alto, mas erguendo em holocausto,
roto e a sangrar, meu próprio coração?...




***



Carne

a Andrade Muricy


Para purificar-me eu me faço o verdugo
de mim mesmo, e me obrigo ao cilício da dor.
Luta improfícua! Em vão minhas forças conjugo:
sou vencido na liça... O instinto é o vencedor...

Debalde eu me revolto e os ímpetos subjugo,
à explosão do desejo em vão tento me opor.
Alma! Tu sofrerás do corpo o eterno jugo,
curva-te para sempre ao domínio opressor!
Carne, que me tornaste um rastejante verme!
Ah! Pudera fazer-te impassível e inerme:
– brasa que se apagou, sombra, extinto clarão...

Carne, que matarás o sonho que me exalta!
Negra barreira a erguer-se, intransponível,
alta no caminho lustral da minha Redenção!...




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