ARGUMENTO DUM VELHO SERTANEJO
Mode as modas de hoje em dia
Mode os modos de falar
Mode os amuo dos besta
Mode os presepe de lá
Mode estrupiço dos tempos
Mode eunão me amedronhar
Mode os pi-bite das rua
Mode as mutreta que há
Mode as falta de um bom-dia
Um boa noite, um olá
Mode assalto, mode tiro
Mode as fumaça do ar
Mode eu não ter desgosto
Ou mesmo me ressentir
Não se anime mode eu ir
Que eu não deixo esse lugar.
***
CAMINHÃO DE MUDANÇA
Vai
pela estrada um caminhão repleto de mudança
Levando
a herança de herdeiros de poucos herdados:
Os
engradados de uma cama finalmente em pé
Arca
e Noé prisioneiros desse esfaqueado
Encaixotados
os tecidos, mimos e quebráveis
E
os incontáveis cacarecos soltos remexidos
Dois
falecidos num retraio olham pra paisagem
Guardando
imagens e lembranças dos seus tempos idos.
Um
velho espelho já trincado mostra o azul do céu
E
o mundaréu ensolarado se faz de carona
Uma
meia-lona sobreposta com o melhor arrojo
Se
faz de estojo pra relíquia da velha sanfona
Uma
poltrona escancarada de pernas pra cima
Fazendo
esgrima com cadeiras, bancas e tramelas
De
sentinela dois pilões de bojo carcomido
E
um retorcido pé de bucha de flor amarela.
Em
dois colchões almofadados dorme a bicicleta
E
duas setas de uma caixa mostram dois achados:
Um
emoldurado de retraio com um Jesus sereno
E
o último aceno de saudade de um cortinado.
Desbandeirado
segue o carro rumo a seu destino
Um
peregrino pitombado de grande esperança
Vai,
na boleia, um passageiro carregando sonhos
Vai,
na traseira, dez carradas de velhas lembranças.
***
Endereço
de Matuto
Daqui
até lá em casa? No Sítio Caga-Chapéu?
Dá
um bocado de légua
Mas
não é leguinha besta, nem légua de beiço não.
É
légua macha, abafada
Dessas
légua macriada, medida a rabo de cão.
Você
saindo daqui, nem querendo você erra
No
oitáo do cemitério pega a viela de terra
Desce
em Toim Farinheiro
Passa
a água brancacenta de Zefinha Lavadeira
Daí
pra frente é estrada...
Depois
da reta pegada
Avista
o esbarro d'água do pai de Mane Maior
Avista
o tamarineiro
Morado
e sombreado de Seu Zé Vacinador
Quando
chega nas quebrada do Raso do
Macaíba
Pega
um mato embamburrado
Que
o cabra morre e não chega
No
Lajedo da Formiga.
Avistando
um pé de pau com parecença de ipê
Aí
o cumpade vê uma pista arreganhada
Prontinha
se oferecendo pró cabra que aparecer,
Mas
aí você não quera...
Diz:
Essa não apriceio!!!
Pega
a trilha carroçave
Com
duas baixa dos lado e cabeleira no meio.
Bem
dizer já tamo dentro da Avenida do Capim
Toca
em riba da babugem coberta de pisadura
E
tome rédea esticada do começo até o fim.
É
estrada festejada por cerca de todo tipo:
É
cerca de enchimento, de vara e de pau-a-pique
De
lance, de avelós, de pedra, cama-no-chão
Trançada
e pedra dobrada, aramada e travessão. |
E
abre e fecha porteira
Porteira
de pau-em-pé, de mourâo, de pau corrido
De
colchete e zigue-zague
E
o cabra ali no mondé!...
Se
chegar numa porteira lambuzada de azul
Aí
o cumpade errou...
Volte
dez braça pra trás e quebre o braço direito
Onde
começa Amargosa, as terra do meu avô.
Quando
der numa caieira de pretura acarvonada
Pega
a subida abusada do Serrote do Mói-Mói
É
trecho pau-com-formiga
É
ladeira enladeirada
Se
o cabra sobe fumando
Cai
cinza dentro do zói.
Bem
dizer não chega em riba
Pega
a gangorra descendo.
Da
ribanceira pra baixo
É
Sítio Caga-Chapéu
Avistando
o mundaréu
Dali
você tá me vendo.
Vê
gado e capim-mimoso
Em
estado de baixio
Em
estado de balaio
Laranja,
manga e limão
Pé
de jaca jaquejando
E
caju de vez em quando
Cajuindo
pelo chão.
NÃo
dá um pulo de grilo
Pra
chegar no meu terreiro
É
rudiar o açude
Que
o cabôco morre em cima
O
cabra logo se anima
Na
sombra do juazeiro.
É
uma casinha alpendrada
Com
cinco bico de luz
O
cachorro é Bero-Waite
Mas
abana logo o rabo
Pra
Nego-Véi e Cuscuz.
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